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| Moradora descreveu rotina de submissão e silêncio na comunidade Icauã. Segundo mulher, vítima dizia que queria sair da relação, mas não tinha para onde ir. |
O homem, identificado como Aguinaldo José Alves, de 39 anos, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça após passar por audiência de custódia no domingo (30).
A tragédia que destruiu parte da comunidade Icauã, no sábado
(29), expôs uma rotina marcada por violência e medo. Elisângela Machado de
Lima, vizinha da família, disse que a vítima Isabele Gomes de Macedo queria
sair da relação, mas não tinha para onde ir.
“Ela falava o tempo todo: ‘Eu não aguento mais, mas é porque
eu não tenho onde ficar. Minha mãe disse que ia fazer um primeiro andarzinho em
cima da minha casa e eu vou sair desse inferno’”, relatou Elisângela.
A vizinha contou que as crianças do casal pediam ajuda com
frequência. “Os filhos dele ficavam com a mãozinha para fora de casa
pedindo socorro: ‘Socorro! Tia, tio, me ajuda!’, mas o pessoal finge que não
vê. Aqui é isso, é fingir que não vê e a gente vive”, afirmou.
Segundo ela, os pedidos eram ignorados por quem passava. “Tem que viver”, resumiu, ao explicar que muitos moradores preferem não se envolver por medo de represálias. Para Elisângela, Guel sempre demonstrou um comportamento "agressivo" com a família, mas era educado e prestativo com a comunidade.
“Ele era bonzinho, sempre foi bonzinho [para os vizinhos].
Era um homem bom, simpático, dava bom dia, boa tarde e boa noite. Era legal,
educado, mas realmente sempre foi um monstro. [...] Fica à noite, bebe, se
diverte com todo mundo, mas no outro dia a realidade é outra. Quem sofre é a
mulher e os filhos”, relatou a vizinha.
De acordo com Elisângela, Isabele não interagia muito com os
demais vizinhos por restrições do companheiro. “Da porta dele, não deixava
ela passar. Ela não conversava, saía direto para levar o filho dela para a
escola, da escola voltava para casa”, disse.
Ainda segundo a vizinha, a vítima levava uma vida completamente dedicada à família. “Era uma mulher limpa, dobrava tudo, deixava tudo limpinho. No barraquinho dela, não se via confusão”, contou. “Baixava a cabeça, passava para casa, voltava”, completou.
O incêndio
A comunidade Icauã é uma ocupação do Movimento Urbano dos
Trabalhadores Sem-Teto (Must) e fica no bairro da Caxangá, nas imediações de
uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
O Corpo de Bombeiros informou que foi acionado para
controlar o incêndio às 12h20 e disse que enviou oito viaturas, sendo três de
combate a incêndio, uma de salvamento, uma de resgate e outras três de comando
operacional. Ao todo, 26 militares estavam envolvidos na operação.
Imagens registradas no local mostram as chamas se espalhando
rapidamente entre os barracos de madeira. Segundo os
bombeiros, o fogo foi controlado por volta das 16h30.
Outros vídeos mostram o momento em que o homem foi detido
pela Polícia Militar. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), ele
estava sendo linchado por moradores quando as forças de segurança chegaram ao
local da ocorrência. Ele foi preso em flagrante e levado a um hospital.
Fonte: g1

