quinta-feira, 31 de julho de 2025

“A cobra está fumando”: Brejense combateu na Segunda Guerra Mundial como integrante da Força Expedicionária Brasileira

José Cirilo de Albuquerque enfrentou nazistas na Itália e trocou os campos de batalha na Europa pela luta política em Brejo

Quando embarcou para a Itália em 23 de novembro de 1944, o jovem José Cirilo de Albuquerque, natural de Brejo da Madre de Deus, carregava mais do que uma farda da Força Expedicionária Brasileira (FEB) com o temido bordado “A cobra está fumando”. Levava nas costas a coragem de milhares de brasileiros enviados para enfrentar tropas nazistas e fascistas em um dos conflitos mais sangrentos da história.

Na frente europeia, Cirilo, como ficou conhecido entre os companheiros, combateu nas violentas batalhas de Monte Castello, Montese e Castelnuovo. Ao lado de outros “Pracinhas”, desafiou o inverno rigoroso, a geografia montanhosa e um inimigo implacável. Seu número de identificação era 1G-306188, e ele integrou o 4º Escalão da tropa brasileira que ajudaria a virar o rumo da guerra.

Retornou ao Brasil em 17 de setembro de 1945 com a missão cumprida e uma história de bravura na bagagem. Mas sua trajetória de enfrentamento estava longe do fim.

No cenário político de Brejo da Madre de Deus, Cirilo trocou as trincheiras da guerra pelas disputas eleitorais. Entre 1955 e 1968, exerceu três mandatos consecutivos como vereador. Foi filiado a diferentes legendas: PRT, UDN e ARENA e em 1968 lançou-se como candidato a prefeito. Apesar dos 885 votos conquistados, foi derrotado por Mário Falcão. Durante a campanha, uma frase debochada atribuída ao professor José Mendonça ecoava entre os eleitores: “Zé Cirilo pra prefeito? Nana nina nina não!”

A provocação não era à toa. Cirilo era um opositor declarado das famílias mais tradicionais e influentes do município, como os Mendonça e Zé Inácio. Não hesitou em enfrentá-los, inclusive com denúncias formais na Justiça.

Também foi presidente da Sociedade Musical São José e recebeu uma homenagem póstuma em 1991, quando a sala do plenário da Câmara Municipal recebeu seu nome, embora essa honraria tenha sido substituída posteriormente para homenagear o ex-vereador, ex-prefeito e ex-deputado brejense Zé Inácio.

Fora da vida pública, foi casado com Maria dos Anjos Vieira de Albuquerque, conhecida como Dona Dosanjos, com quem teve sete filhos: Pedro Paulo, Geraldo Magela, Antônio de Pádua, Maria José, Maria de Fátima, Maria Tereza e Maria das Graças. Ele faleceu no Hospital das Clínicas, no Recife, em 22 de dezembro de 1990, aos 69 anos.

De soldado na guerra mundial a combatente na política local, José Cirilo de Albuquerque deixou um legado de coragem, enfrentamento e resistência, seja nas montanhas italianas ou nas ruas de sua terra natal.

Do Estação Notícias / Fotos: FamilySearch / Museu Virtual da FEB