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José Cirilo de Albuquerque enfrentou nazistas na Itália e trocou os campos de batalha na Europa pela luta política em Brejo |
Quando embarcou para a Itália em 23 de novembro de 1944, o
jovem José Cirilo de Albuquerque, natural de Brejo da Madre de Deus, carregava
mais do que uma farda da Força Expedicionária Brasileira (FEB) com o temido
bordado “A cobra está fumando”. Levava nas costas a coragem de milhares de
brasileiros enviados para enfrentar tropas nazistas e fascistas em um dos
conflitos mais sangrentos da história.
Na frente europeia, Cirilo, como ficou conhecido entre os
companheiros, combateu nas violentas batalhas de Monte Castello, Montese e
Castelnuovo. Ao lado de outros “Pracinhas”, desafiou o inverno rigoroso, a
geografia montanhosa e um inimigo implacável. Seu número de identificação era
1G-306188, e ele integrou o 4º Escalão da tropa brasileira que ajudaria a virar
o rumo da guerra.
Retornou ao Brasil em 17 de setembro de 1945 com a missão
cumprida e uma história de bravura na bagagem. Mas sua trajetória de
enfrentamento estava longe do fim.
No cenário político de Brejo da Madre de Deus, Cirilo trocou
as trincheiras da guerra pelas disputas eleitorais. Entre 1955 e 1968, exerceu
três mandatos consecutivos como vereador. Foi filiado a diferentes legendas: PRT,
UDN e ARENA e em 1968 lançou-se como candidato a prefeito. Apesar dos 885 votos
conquistados, foi derrotado por Mário Falcão. Durante a campanha, uma frase
debochada atribuída ao professor José Mendonça ecoava entre os eleitores: “Zé
Cirilo pra prefeito? Nana nina nina não!”
A provocação não era à toa. Cirilo era um opositor declarado
das famílias mais tradicionais e influentes do município, como os Mendonça e Zé
Inácio. Não hesitou em enfrentá-los, inclusive com denúncias formais na
Justiça.
Também foi presidente da Sociedade Musical São José e
recebeu uma homenagem póstuma em 1991, quando a sala do plenário da Câmara
Municipal recebeu seu nome, embora essa honraria tenha sido substituída
posteriormente para homenagear o ex-vereador, ex-prefeito e ex-deputado brejense
Zé Inácio.
Fora da vida pública, foi casado com Maria dos Anjos Vieira
de Albuquerque, conhecida como Dona Dosanjos, com quem teve sete filhos: Pedro
Paulo, Geraldo Magela, Antônio de Pádua, Maria José, Maria de Fátima, Maria
Tereza e Maria das Graças. Ele faleceu no Hospital das Clínicas, no
Recife, em 22 de dezembro de 1990, aos 69 anos.
De soldado na guerra mundial a combatente na política local,
José Cirilo de Albuquerque deixou um legado de coragem, enfrentamento e
resistência, seja nas montanhas italianas ou nas ruas de sua terra natal.
Do Estação Notícias / Fotos: FamilySearch / Museu Virtual
da FEB