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Jaqueline Nascimento conta ter sido arremessada da boia que dividia com um rapaz. Com duas novas vítimas, sobe para seis número de feridos em acidentes no Acquaventura Carneiros |
"Eu gritava, escutava o menino gritando também. Me
agarrei àquela boia como se estivesse me agarrando em Deus. Porque ali foi um
sentimento que... Achei que ia morrer ali. Não sabia o que estava
acontecendo", disse.
Além de Jaqueline e do rapaz que estava com ela, houve,
ao menos, outras quatro vítimas de acidentes no local, sendo dois casais. Duas
mulheres fraturaram as clavículas, enquanto o marido de uma delas fissurou três
costelas.
Jaqueline compartilhou nas redes sociais um vídeo falando
sobre o acidente, que aconteceu na manhã da quinta-feira (1º), apenas seis dias
após a inauguração do parque, em 25 de abril.
A professora, que mora em Barreiros,
cidade vizinha de Tamandaré, disse que chegou por volta das 9h, com o neto do
marido, de 11 anos.
O acidente foi no brinquedo Iakataka. A atração, formada por
vários tobogãs com muitas curvas, é conhecida como a montanha-russa aquática do
parque e foi a primeira à qual a professora se dirigiu depois que chegou ao
Acquaventura.
A criança que estava com ela não entrou no equipamento, que
é proibido para menores de 12 anos.
Segundo Jaqueline, como o menino não podia usar o brinquedo,
ela acabou dividindo uma boia com um rapaz, que estava sozinho. Eles não se
conheciam.
"A moça nos pesou. Eu estava pesando 82 quilos e o
rapaz, 65 [...]. Ela nos informou que, por eu ser mais pesada, teria que ir
atrás. Ele teria que ir na frente. As minhas pernas ficariam abaixo do braço
dele e, em hipótese alguma, ele poderia baixar a perna. E a gente não poderia
largar a boia em momento algum", afirmou.
Jaqueline relatou que, ao baterem na grade, as vítimas foram
lançadas de volta com a boia para o tobogã. Segundo a professora, eles entraram
num tubo fechado e, logo em seguida, a boia virou.
"Ela derrubou a gente de lado. Do nada, ela virou.
[...] No momento, a gente não se feriu, senti o impacto da gente caindo com
ela. Ali já sentia muito sangue na minha boca, meu rosto todo ardendo já. Eu,
desesperada, e o rapaz, tentando me acalmar. A gente ficou um tempo dentro do
tubo fechado e eu conseguia ouvir as vozes do salva-vidas", contou.
Eles ficaram alguns minutos se segurando, com a boia, no tobogã para não serem empurrados pela água, que estava com uma vazão muito forte. Depois de alguns minutos, o rapaz — que, de acordo com Jaqueline, não tinha machucados aparentes — convenceu a professora a sentar de novo na boia e descer para fora do brinquedo.
Jaqueline, que usa aparelho nos dentes, ficou com o rosto
muito machucado. Ela foi socorrida pela equipe médica do parque e levada ao
hospital de Tamandaré.
Depois de passar uma hora em observação, foi liberada.
Enquanto a mulher era socorrida, o marido da vítima foi chamado pela
administração do estabelecimento e buscou o menino.
"Além das lesões que tive no rosto, o impacto da grade
arrasou os meus lábios pelo lado de fora. E o aparelho rasgou os meus lábios
por dentro, as minhas bochechas, o ferro saiu do lugar. Fui à dentista porque
estava sentindo muitas dores nas raízes dos dentes. Meus dentes da frente
ficaram dormentes. Não estava conseguindo beber água, comer direito",
informou.
Outras quatro vítimas
Pelo menos mais dois casais se machucaram no Acquaventura
Carneiros nos últimos dias. Duas mulheres fraturaram as clavículas e o
marido de uma delas fissurou três costelas. Os acidentes aconteceram no último
sábado (3).
Em entrevista, o advogado Fernando Araújo contou que fissurou três costelas e sua esposa, Luanna Cavalcanti, fraturou a clavícula no brinquedo Canoa do Muxima. O casal, que vive no Recife, conheceu Mariana Maranhão e Lucas Alves, do Cabo de Santo Agostinho, enquanto recebiam os primeiros socorros no parque. Assim como Luanna, Maryana também fraturou a clavícula.
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Fraturas registradas em Luanna Cavalcanti, Fernando Araújo e Maryana Maranhão, da esquerda para a direita |
Maryana e Lucas aguardavam na fila quando o primeiro casal
se acidentou e se machucaram de forma semelhante, de acordo com Fernando. O
advogado também representa Maryana e Lucas judicialmente.
Por conta da dimensão dos ferimentos, Maryana Maranhão
precisou ser transferida para o Hospital Dom Helder Câmara para passar por um
procedimento cirúrgico. De acordo com Fernando, a cirurgia aconteceu na manhã
desta segunda-feira (5).
Ainda segundo Fernando Araújo, a
montanha-russa aquática na qual Jaqueline se machucou na quinta-feira (1º)
estava interditada no sábado (3).
O que diz o Acquaventura
O parque Acquaventura Carneiros foi procurado para
obter detalhes sobre o funcionamento dos brinquedos e sobre a segurança deles.
Foi questionado ao parque:
1.
Quantos acidentes
foram registrados no Acquaventura Carneiros da abertura até o momento?
2.
Se o parque conta
com equipe médica de plantão?
3.
Se brinquedos foram
testados antes da abertura e, caso sim, como funcionam os testes?
4.
Se o Acquaventura
já identificou qual problema ocasionou os acidentes e, caso sim, se foram
corrigidos?
5.
Se será tomada
alguma medida para que não aconteçam novos acidentes?
Em nota, o Acquaventura afirmou
que “todas atrações do parque são devidamente certificadas e passaram por
centenas de testes técnicos, inclusive pela própria equipe, obedecendo aos mais
rígidos controles de qualidade internacionais”, mas não detalhou como os testes
são realizados, nem quando foram avaliados pela última vez.
As demais perguntas não foram respondidas até a última atualização desta reportagem.
Fonte:g1