O caso aconteceu em novembro de 2023, mas somente nessa semana a investigação da Polícia Civil foi concluída com o indiciamento do autor do crime por estupro de vulnerável e de um técnico em enfermagem, por omissão de socorro, já que ele teria visto o abuso e não fez nada para interrompê-lo.
A vítima estava internada na clínica Reluzir havia quatro dias para tratamento da dependência de drogas e da depressão. O JC teve acesso com exclusividade ao vídeo, com quase dois minutos. A vítima aparece sozinha, deitada na maca, na ala hospitalar. O autor do crime se aproxima e passa a mão várias vezes pelo corpo da dela. Depois ele sai tranquilamente.
VÍTIMA ESTAVA ACORDADA
"Ela estava acordada no momento do estupro, mas ficou sem reação. Havia tomado remédios. Ela me contou que só pensava quando aquilo iria acabar. Quando o segurança saiu, ela só chorava e gritava. Foi um trauma muito grande", disse a advogada da família da vítima, Maria Eduarda Albuquerque.
"A situação aconteceu na madrugada da quinta para a sexta-feira. A vítima passou o dia chorando para que ligassem para a mãe dela. Mas essa ligação só ocorreu por volta das 20h30, mas a equipe da clínica Reluzir não disse do que se tratava. A família só tomou conhecimento no sábado, quando chegou lá. Era para eles terem chamado a polícia. Demorou muito, o que acabou livrando o autor do flagrante. Ele, inclusive, esse tempo todo está em local desconhecido, nunca foi encontrado pela polícia para ser ouvido. Houve falhas da clínica", completou.
A Polícia Civil disse, em nota, que o inquérito foi conduzido pela Delegacia de Camaragibe e que o resultado já foi encaminhado ao Ministério Público de Pernambuco "com o indiciamento de um homem por estupro de vulnerável e outro homem por omissão de socorro". Os nomes dos suspeitos não foram revelados.
TRAUMA E TENTATIVA DE RECOMEÇO
A advogada contou que a vítima trocou de clínica após o episódio. "Ela ficou muito mal com o que aconteceu, teve recaídas. A mãe dela também precisou de tratamento, por causa do trauma. Imagine a situação: você deposita a confiança para resolver um problema, e acaba criando outro", afirmou.
Maria Eduarda Albuquerque disse que, além do trauma, a
bacharel em direito convive com o forte sentimento de impunidade. "Ela tem
medo de sair pela rua e encontrar esse homem. Por isso, vamos continuar
cobrando para que ele seja encontrado e punido pelo que fez."
CLÍNICA DIZ QUE TOMOU PROVIDÊNCIAS IMEDIATAMENTE
A clínica Reluzir se pronunciou sobre o caso na noite desta
terça-feira (18). Por meio de nota, declarou que "desde o seu
conhecimento, o hospital não só deu todo apoio à vítima, como à família e à
polícia para investigar o caso".
Disse também que o hospital "foi noticiado apenas na
sexta-feira pela manhã, durante uma consulta de rotina com a paciente, que
narrou o ocorrido. Logo após, ainda na sexta-feira, o hospital imediatamente
checou as gravações das câmeras e, ao verificar a situação, no mesmo dia
realizou o registro do ocorrido juntamente com a Delegacia de Camaragibe".
A clínica confirmou que também entrou em contato com
familiares na sexta-feira. "Sobre o autor do fato, é importante colocar
que ele trabalhava há apenas dois meses no local, bem como exercia sua função
na jornada 12x36 e havia saído do local às 7h. Assim, ainda na própria
sexta-feira, o hospital desligou o autor, fornecendo às autoridades policiais
todos os endereços e telefones úteis", disse a nota.
Em outro trecho, a unidade reforçou que "lamenta
profundamente o ocorrido e se coloca à disposição da Polícia Civil de
Pernambuco e órgãos judiciais, para que o fato seja devidamente solucionado,
com o rigor e sigilo que o caso exige".
ESTUPRO EM PERNAMBUCO
De acordo com estatísticas da Secretaria de Defesa Social
(SDS), 988 casos de estupro foram registrados em Pernambuco entre janeiro e
maio deste ano. Houve queda de 17% no número de denúncias em relação ao mesmo
período de 2023, quando 1.189 queixas foram contabilizadas pela polícia.
Em relação aos casos deste ano, 88% (870) das vítimas foram do sexo feminino. Desse total, três em cada quatro vítimas têm até 24 anos.
Fonte: JC