Mãe, esposa, vendedora de marmitas, passadeira e dona
de casa, mas, sobretudo, uma estudante que almejava desde criança passar
em Medicina. Janecleia Sueli Maia Martins, de 49 anos, foi aprovada
no curso após 12 anos de dedicação e tentativas e uma vida inteira de
batalhas com a certeza de que, um dia, alcançaria a realização do seu
sonho mais esperado.
Natural da cidade baiana de Piritiba, Jane, como é
conhecida, mora em Petrolina, no Sertão do São Francisco de Pernambuco,
desde os 16 anos de idade, quando casou.
Jane foi aprovada na Universidade do Estado da Bahia (Uneb),
em Salvador, a 500 quilômetros de distância de Petrolina, e se prepara
para o início das aulas, marcado para a segunda-feira (13).
Em conversa com a Folha de Pernambuco, Jane lembra das
dificuldades da infância. A perda da avó materna para o câncer, quando
criança, foi um catalisador do seu sonho de ser médica. O objetivo
dela era "estudar para médica para curar as pessoas desse doença
maldita".
A sua família, de seis irmãos, era muito humilde: o pai
trabalhava como vendedor ambulante e a mãe fazia serviços gerais, como
faxineira e copeira.
"Não tinha condições de bancar os estudos da gente para cursar, por exemplo, Medicina. Era muito difícil para a família", rememora a estudante.
É por causa da morte da avó, inclusive, que o sonho de
Janecleia é se especializar em Cirurgia ou Oncologia.
Enquanto estudava, a baiana seguia com uma jornada
árdua: também trabalhava na informalidade vendendo marmitas, fazendo
faxinas, lavando e passando roupa e comercializando perfumes.
"Trabalhando durante o dia e corria para o cursinho à noite. Teve uma época que estava fazendo marmitas, entregava até 1 hora da tarde e corria para o cursinho, era o horário que eu tinha", completa a estudante, lembrando, ainda, que estudava até meia-noite, uma da manhã e às cinco, seis já estava de pé novamente para continuar a batalha.
Tentei por inúmeros anos, recebi muitas críticas de muita gente maldosa. Do tipo: 'Você vai passar uma vida tentando e não vai conseguir nunca, porque a pessoa que veio de escola pública, você já está velha, não tem condições de você acompanhar a cabeça dos jovens de hoje. Para passar em Medicina? Impossível!", pontua Janecleia, que prossegue: "Ouvi muito essa palavra impossível"
"Aí eu dizia: impossível, não! Para quem crê em Deus e tem força de vontade e sonhos, não existe o impossível. Tudo é possível", continua Jane, dizendo, ainda, que seguiu tentando fazendo vestibulares e Enem, até alcançar o objetivo.