sexta-feira, 10 de março de 2023

Pernambucana realiza, aos 49 anos, sonho de passar em Medicina

Mãe, esposa, vendedora de marmitas, passadeira e dona de casa, mas, sobretudo, uma estudante que almejava desde criança passar em Medicina. Janecleia Sueli Maia Martins, de 49 anos, foi aprovada no curso após 12 anos de dedicação e tentativas e uma vida inteira de batalhas com a certeza de que, um dia, alcançaria a realização do seu sonho mais esperado.

Natural da cidade baiana de Piritiba, Jane, como é conhecida, mora em Petrolina, no Sertão do São Francisco de Pernambuco, desde os 16 anos de idade, quando casou. 

Jane foi aprovada na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Salvador, a 500 quilômetros de distância de Petrolina, e se prepara para o início das aulas, marcado para a segunda-feira (13).

Em conversa com a Folha de Pernambuco, Jane lembra das dificuldades da infância. A perda da avó materna para o câncer, quando criança, foi um catalisador do seu sonho de ser médica. O objetivo dela era "estudar para médica para curar as pessoas desse doença maldita".

A sua família, de seis irmãos, era muito humilde: o pai trabalhava como vendedor ambulante e a mãe fazia serviços gerais, como faxineira e copeira.

"Não tinha condições de bancar os estudos da gente para cursar, por exemplo, Medicina. Era muito difícil para a família", rememora a estudante.

É por causa da morte da avó, inclusive, que o sonho de Janecleia é se especializar em Cirurgia ou Oncologia.

Enquanto estudava, a baiana seguia com uma jornada árdua: também trabalhava na informalidade vendendo marmitas, fazendo faxinas, lavando e passando roupa e comercializando perfumes.

"Trabalhando durante o dia e corria para o cursinho à noite. Teve uma época que estava fazendo marmitas, entregava até 1 hora da tarde e corria para o cursinho, era o horário que eu tinha", completa a estudante, lembrando, ainda, que estudava até meia-noite, uma da manhã e às cinco, seis já estava de pé novamente para continuar a batalha. 

Tentei por inúmeros anos, recebi muitas críticas de muita gente maldosa. Do tipo: 'Você vai passar uma vida tentando e não vai conseguir nunca, porque a pessoa que veio de escola pública, você já está velha, não tem condições de você acompanhar a cabeça dos jovens de hoje. Para passar em Medicina? Impossível!", pontua Janecleia, que prossegue: "Ouvi muito essa palavra impossível"

"Aí eu dizia: impossível, não! Para quem crê em Deus e tem força de vontade e sonhos, não existe o impossível. Tudo é possível", continua Jane, dizendo, ainda, que seguiu tentando fazendo vestibulares e Enem, até alcançar o objetivo.