A montadora japonesa Toyota anunciou na última terça-feira
(5), que vai fechar sua fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC paulista,
e transferir as operações para as unidades tradicionais de Sorocaba, Indaiatuba
e Porto Feliz, no interior de São Paulo, a partir de dezembro.
A fábrica mais antiga do grupo no País, inaugurada em 1962 e
onde foi produzido o icônico jipe Bandeirante, fabrica atualmente peças
que equipam modelos de veículos produzidos no Brasil, Argentina e Estados
Unidos e emprega atualmente cerca de 550 funcionários. Desparece assim uma das
fabricas mais tradicionais do setor no Brasil.
Sobre o Toyota modelo Bandeirante:
Assim como muitos fabricantes importantes instalados no
Brasil, a Toyota construiu parte da história do automóvel
nacional na década de 50, quando trouxe um improvável utilitário 4×4 que se
tornaria um dos pilares resistentes que sustentaram a grande estrutura que se
tornou posteriormente a indústria automobilística do país. Este modelo era
o Toyota Bandeirante.
Na verdade, a produção do Toyota Bandeirante parou de ser feita nessa unidade desde 2001, quando a empresa mudou a configuração de produção do veículo completo, para produzir apenas peças.
Mas, Toyota Bandeirante é uma marca tão forte no
Nordeste que, em 2019, em Pernambuco, foi objeto de uma normatização do
Transporte Complementar é resultado dos trabalhos da Comissão Especial
instituída pelo Decreto 47.807, de 19 de agosto de 2019.
Ele é tão importante que o Estado chegou a definir as regras
de atuação para quem realiza o transporte remunerado de passageiros
intermunicipal no interior do Estado pela Empresa Pernambucana de Transporte
Intermunicipal (EPTI) – órgão fiscalizador do sistema.
Esse movimento quando a EPTI queria proibir o uso do Toyota
como transporte de passageiros, contrariando uma cultura e um negócio que
movimenta mais de 2.000 proprietários do icônico Toyota Bandeirante.
Na verdade o Toyota Bandeirante era considerado
indestrutível por muitos clientes, valendo-se do uso de tração 4×4 ou mesmo com
tração 4×2.
Nos anos 70 e 80, por exemplo, concessionárias de tratores
usavam o Toyota Bandeirante para alcançar os locais onde os veículos estavam
quebrados ou precisavam de manutenção no meio rural.
E pouca gente sabe que no Censo de 1970 e 1980 o IBGE usou muito o Toyota Bandeirante nos censos nacionais para chegar em locais mais remotos do Brasil. O Toyota Bandeirante também se alistou nas Forças Armadas assim como fez e faz a alegria de muitos aventureiros se embrenhando nas milhares de trilhas espalhadas pelo Brasil.
|
Mas em Pernambuco ele é veículo de transporte no interior
com decreto de regulamentação. Pode parecer estranho que no ano de 2022 ainda
se adote esse tipo de veículo, mas a verdade é que o Toyota chega em qualquer
lugar.
Segundo o pesquisador Ricardo de Oliveira, técnico mecânico,
formado há 25 anos e jornalista no Notícias Automotivas o veículos começou a
ser produzido no Brasil em maio de 1962, no bairro Planalto, em São Bernardo do
Campo, surgia uma nova fábrica construída para o modelo.
Naquele ano, ele já com o nome nacionalizado, como uma
referência aos portugueses de saíam da Capitânia de São Vicente para desbravar
o inóspito Brasil a partir do século XVII.
Foi nesse mesmo ano que chegou o Toyota Bandeirante com capota de aço, sendo oferecido junto com o “conversível”. Também chegou uma versão perua com chassi alongado do mesmo modelo fechado e a picape com caçamba de aço.
A possibilidade de alongamento como se viu em Pernambuco foi
um novo diferencial. Nasceu ali uma linha de oficinas que até hoje se dedicam a
alongar o veículo que pode levar ate 12 pessoas e muita bagagem.
Segundo Ricardo de Oliveira o Toyota é um sobrevivente da
gloriosa década de 50 que viu nascer no Brasil a GEIA (Grupo Executivo da
Indústria Automobilística) e com ela a chegada das “primeiras fábricas”,
literalmente em referência aos fabricantes Scania, Volkswagen, Karmann-Ghia,
DKW (através da Vemag), Isetta (através da Romi), entre outras ligadas ao
setor, que inauguravam suas plantas fora de seu país de origem.
A Toyota, da mesma forma, foi uma delas e isso aconteceu
muitos anos antes de qualquer outra planta da japonesa fosse erguida fora do
Japão.
Uma das marcas do Toyota Bandeirante e a força do seu motor
diesel que literalmente o fazem tremer. A origem dessa característica é
curiosa,
Deriva de um acordo com a Mercedes-Benz para uso do motor
OM-324 3.4 de 78 cavalos, apelidado de “britadeira”. Sua potência num veículo
como o Toyota viraria uma característica marcante. Seria assim, com coração alemão
que o Toyota Bandeirante seguiria por quase toda a sua vida no Brasil.
Fonte: Fernando Castilho