O litoral de Pernambuco segue sofrendo com a enorme
quantidade de lixo jogado no mar. Na manhã deste domingo (20), muitos
pescadores relataram ter encontrado sujeira em alto mar, principalmente no
Litoral Sul do Estado. Com isso, aqueles que se arriscaram ainda na madrugada
em busca de peixes, lamentavelmente, acabaram pescando apenas sacolas
plásticas, garrafas pet e outros tipos de lixo sólido.
O arquiteto Romero Duarte, que costuma pescar nos finais de
semana nas imediações das praias de Barra de Sirinhaém, de Toquinho e de
Serrambi, se assustou com a quantidade de sujeira encontrada em alto mar.
"Eu faço pesca esportiva... E hoje saí cedinho para pescar, por volta das
5h, e quando voltamos para a costa, às 10h, só tínhamos pego sacola
plástica", relatou Romero.
Durante o trajeto, em conversa com o marinheiro da
embarcação, o arquiteto contou que os pescadores da região acreditam que o lixo
que surgiu nas praias do Litoral Sul é decorrente da obra de dragagem que está
sendo feita no Porto do Recife.
Entretanto, apesar das suspeitas levantadas pelos
trabalhadores que atuam em alto mar, a administração do Porto do Recife,
através de sua assessoria de imprensa, se manifestou através de nota explicando
que "a dragagem ou atividade portuária não produzem resíduos plásticos,
mas sim o descarte indevido no mar e nos rios". Alegou que os resíduos são
sugados e filtrados, e que, desde o início do trabalho, "recolheu e
descartou em terra mais de 18,6 toneladas de lixo, que é recolhido e entregue
na Central de Tratamento de Resíduos (CTR) de Candeias, e que equipe de gestão
ambiental não identificou flutuação de resíduos plásticos no mar durante o
serviço, e que contratou nova empresa para realizar um monitoramento diário no
bota fora, canal do terminal e em toda extensão da costa de Olinda à
Piedade".
Com a dificuldade para encontrar peixes em alto mar, no
Litoral Pernambucano, representantes das colônias de pescadores suplicam por
uma atuação mais rígida das autoridades para investigar quem está espalhando
esse lixo; para que, assim, os peixes possam voltar a nadar tranquilamente por
nossas águas. "Essa sujeira toda causa muitos danos ao nosso ecossistema e
diminui a quantidade de peixes na região. Hoje, infelizmente, o pescador coloca
a rede para pescar algo e só está vindo lixo. Não temos uma fiscalização da
CPRH (Companhia Pernambucana de Controle da Poluição Ambiental e de
Administração de Recursos Hídricos)", relatou Luiz Medeiros Leal,
presidente da Colônia Z2, de Paulista, e coordenador do Nordeste da
Confederação Nacional dos Pescadores.
Diante da escassez de peixes por conta da poluição, o
representante sindical esclarece que a categoria vem tendo sérios prejuízos
econômicos, já que muitos pescadores estão indo para o mar e voltando com o
barco vazio e sem o sustento de suas famílias. "Estamos tendo muito
prejuízo, pois toda vez que o pescador vai para o mar gasta dinheiro com
gelo, comida, combustível, com os proeiros (tripulante responsável pela
regulagem das velas do barco)... Isso é investimento grande do dono do barco.
Isso é muito ruim para o pescador. Um prejuízo para todo mundo", declarou
Luiz Medeiros Leal.
Investigações
A partir de representação feita pelo Instituto Salve
Mar, do qual Daniel Galvão é o diretor, o Ministério Público Federal
(MPF) instaurou um procedimento para apurar a ocorrência. “No âmbito desse
procedimento, será realizada reunião com integrantes do instituto no dia 17 de
fevereiro”, informou. O MPF disse que, pela investigação ainda estar em fase
inicial, “estas são as informações que tem para repassar até o momento”.
Técnicos da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) também
investigam se o problema do lixo nas orlas tem relação com a atividade da
dragagem do Porto do Recife, ou se é decorrente das últimas chuvas que caíram
na RMR. Segundo o diretor de licenciamento ambiental da CPRH, Eduardo Elvino,
foi feita fiscalização nos últimos dias 11 e 14 de fevereiro no ancoradouro,
quando técnicos acompanharam a execução das obras, mas “não identificaram
material sólidos em suspensão, com as características das denúncias que foram
feitas à Agência”.
A dragagem do Porto do Recife foi licenciada pela CPRH, que
alegou ter exigido à empresa uma apresentação do Plano de Gestão da Qualidade
Ambiental (PGQA), onde é previsto o controle de todos os possíveis impactos da
atividade. “A equipe da CPRH acompanhará o descarrego dos sedimentos na
área do bota fora marinho, que fica a 11 quilômetros da costa litorânea, para
verificar se estão ocorrendo falhas ou dispersão de material sólido, juntamente
com o sedimento. Nosso objetivo é contribuir com a segurança da operação”,
completou Elvino.
Do Estação Notícias