Advogados do ex-deputado pediram benefício sobre um total de 221 dias
de trabalho e 450 horas dedicadas a um curso de ensino à distância.
O ex-deputado do PP Pedro Corrêa, um dos políticos
suspeitos de envolvimento no escândalo da Petrobras, foi condenado por
corrupção no processo do mensalão e cumpre pena desde 2013.
Ele pediu redução de pena alegando que trabalhou
mais de 200 dias, dentro e fora da cadeia, mas a Justiça negou. Descobriu que a
história não era bem essa.
A cela tem banheiro individual, TV de tela plana,
DVD, ventilador e fogão com botijão de gás. É a única assim, no Centro de
Ressocialização do Agreste, a 210 quilômetros do Recife. Ocupada desde janeiro
de 2014 pelo ex-deputado federal do PP Pedro Corrêa, um dos envolvidos no
mensalão, o esquema de compra de votos de parlamentares para aprovação de leis
e projetos no Congresso em Brasília.
Cela no presídio em Canhotinho onde Pedro Correa cumpre pena |
Corrêa foi condenado em 2013 a sete anos e dois meses por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro. Agora, os advogados de defesa tentam trocar pela
liberdade de Corrêa os dias que ele teria trabalhado no presídio.
Para três dias de trabalho, um dia a menos na prisão. Os advogados do
ex-deputado Pedro Corrêa pediram o benefício da remissão da pena sobre um total
de 221 dias de trabalho e 450 horas dedicadas a um curso de ensino à distância.
Mas duas inspeções feitas de surpresa nos locais de trabalho constataram que
não foi bem assim.
O juiz Luiz Rocha comandou as inspeções e se negou a diminuir a pena de
Corrêa. “Essas irregularidades que nós enxergamos, nessa situação, é que nos
levou e nos motivou, e nos convenceu a indeferir o pedido de remição dele”,
afirma o juiz.
O deputado afirma que trabalhou a maior parte do tempo na cocheira da
penitenciária, que fica do lado de fora, a uma distância de 500 metros da
cerca. Ele teria trabalhado na cocheira durante 150 dias ou 5 meses.
O juiz ouviu outros detentos que trabalham na cocheira e agentes
penitenciários. “Ele trabalhou aqui de cinco a seis meses, então qual foi o
período que ele começou e qual foi o último dia de atividade dele?
Curiosamente, eles não sabiam responder”, diz o juiz.
A defesa questiona a maneira com que as inspeções foram feitas. “É um procedimento
absolutamente atípico, sem qualquer previsão e principalmente e o que é mais
grave: sem a participação da defesa”, diz Plínio Nunes, advogado de Pedro
Corrêa.
O ex-deputado foi contratado para trabalhar como médico radiologista em
uma clínica médica em Garanhuns, a 30 quilômetros da penitenciária. Na
inspeção, o juiz registra o encontro com Pedro Corrêa. Ele usa uma
tornozeleira, colocada para monitorar os presos. O ex-deputado fala do trabalho
na cocheira.
Pedro Corrêa, ex-deputado federal: Eu cuidava
de toda vacinação, de toda a ração do gado, todo dia eu descia cedinho, tirava
o leite.
Luiz Rocha, juiz: O senhor trabalhou o mês de fevereiro?
Pedro Corrêa: Março, abril, junho e julho.
Luiz Rocha, juiz: E maio, o senhor ficou aonde?
Pedro Corrêa: Maio eu fiquei na clínica.
Luiz Rocha, juiz: O senhor trabalhou o mês de fevereiro?
Pedro Corrêa: Março, abril, junho e julho.
Luiz Rocha, juiz: E maio, o senhor ficou aonde?
Pedro Corrêa: Maio eu fiquei na clínica.
Pedro Correa usa tornozeleira eletrônica e é monitorado 24 horas |
Dos 60 dias que Corrêa afirma ter trabalhado na
clínica, o juiz reconhece apenas seis, baseado nas fichas de atendimento e nos
recibos preenchidos pelos médicos diariamente.
“Há informação que ele comparecia na unidade. Isto
é fato. Mas o simples comparecimento dele na unidade, no meu entendimento, não
é suficiente para autorizar a remição”, avalia o juiz.
Foi o próprio juiz quem gravou as imagens da cela
onde o ex-deputado cumpre a pena.
Fábio Corrêa, filho e advogado de Pedro Corrêa
questiona o trabalho de Rocha: “E por que ele não foi fiscalizar outras celas?
Eu garanto que ele não prova que ele trata qualquer outro preso do sistema
penitenciário, que está sob a jurisdição dele, da forma que ele trata Pedro
Corrêa”, afirma Fábio Corrêa, filho e advogado de Pedro Corrêa.
O juiz determinou que o governo do estado cobre do
ex-deputado o dinheiro pago a ele pelo trabalho que deveria ter sido feito na
cocheira: cerca de R$ 2 mil. E pede que se apure o envolvimento de funcionários
da penitenciária no caso.
A decisão do juiz foi encaminhada ao secretário de
Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco.
“Eu acho estas denúncias graves, acho que elas
devem ser apuradas. Nós precisamos saber e ter claro o seguinte: que o Brasil
precisa ter uma lei igual para todos”, declara Pedro Eurico, Secretário de
Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco.
Do Estação Notícias Fonte: G1