Posicionado sobre uma grade, 15 metros acima do fundo de um dos túneis
de ventilação do Metrô, na Praça da Sé, o morador de rua Edson Ramos da Silva,
de 48 anos, consegue enxergar o brilho das moedas. Concentrado, ele tem como
equipamento um rolo de barbante com um ímã preso em uma das pontas, ferramenta
usada para “pescar” o dinheiro.
Ao avistar um brilho promissor, ele agacha, solta a linha de uma altura
equivalente a um prédio de cinco andares e traz R$ 0,25 para a superfície. Seu
apelido, Complicado, surgiu da dificuldade em pescar. Ele pesca moedas há 24
anos e ganha até R$ 20 por dia.
“Rapaz, é difícil! O vento do túnel é tão forte que às vezes eu perco o
dinheiro e tenho de pescar outra vez”, contou em uma tarde de pescaria. Nascido
em Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco, Silva chegou a São Paulo em 1986 para
trabalhar em uma construtora. Foi demitido quatro anos depois.
Com problemas com o alcoolismo, ele foi morar na rua. “Se a cachaça não
me matou até hoje, não morro mais”, disse Silva, que não bebe há 18 anos.
Não é todo dia que o “mar” está para moeda. “Eu fico uma semana sem
pescar para juntar mais dinheiro em um buraco.” Silva também consegue pegar
notas fazendo uma espécie de pinça, usando dois barbantes, cada um com um ímã
na ponta. Ele disse que, certa vez, uma pessoa que o via pescar duvidou e jogou
R$ 50 em um respirador. “Claro que eu pesquei.”
Sobrevivência. O dinheiro é usado para comer, fumar e ligar para a filha de 7 anos, que mora em Sergipe. A menina é fruto de um relacionamento rápido que teve com uma mulher da cidade quando foi visitar sua mãe.
O pescador de moedas não anda sozinho e está sempre acompanhado do
pintor e percursionista de forró Francisco Alves Lubak, de 55 anos, que passa o
dia fazendo bicos na rua e à noite vai para albergues. Alcoólatra assumido, ele
conheceu Silva nos anos 1980. “O Complicado não bebe, nenhuma gota, mas eu bebo
por ele.” Ao final da entrevista, Silva deu um abridor de garrafa para Lubak.
Do Estação Notícias Fonte: Estadão