sábado, 6 de agosto de 2022

Gêmeos siameses unidos pela cabeça são separados em cirurgia inédita no SUS

Uma história de sucesso que vai marcar a medicina no Brasil. Os gêmeos siameses, Arthur e Bernardo, de 4 anos, que nasceram unidos pela cabeça, foram separados após uma cirurgia inédita e muito delicada feita pelo SUS. Os bebês compartilhavam um pedaço do cérebro e a principal veia que leva o sangue de volta ao coração.

Um caso muito raro e gravíssimo. Eles passaram por nove cirurgias. Um procedimento extremamente complexo, feito todo pelo Sistema Único de Saúde após quase quatro anos de espera.

“Esses gêmeos se enquadraram na classificação mais grave, mais difícil e com mais risco de morte para os dois. Quando você tem 1% de chance, você tem 99% de fé”, disse o neurocirurgião Gabriel Mufarrej.

Quadro delicadíssimo

Bernardo e Arthur nasceram unidos pelo crânio e pelo cérebro. Os irmãos chegaram ao Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer quando tinham oito meses de idade.

Os irmãos compartilhavam cerca de 15% de cérebro e dividiam também uma veia grande e muito importante que conduzia o sangue de retorno aos corações dos dois. Eles passaram mais de três anos internados.

Cirurgia do medo

A primeira cirurgia dos meninos foi batizada de “cirurgia do medo”, do desconhecido. As seguintes foram acontecendo com intervalos de três a quatro meses. Em cada procedimento, os médicos conseguiam desconectar, aos poucos, a veia do cérebro de um dos irmãos e dar tempo desse cérebro recompor as veias do sistema circulatório.

A equipe médica fez inúmeras ressonâncias magnéticas e tomografias nos gêmeos para tentar entender a estrutura cerebral tão diferente e as veias que eles compartilhavam. Para ajudar a entender melhor, os neurologistas decidiram fazer também modelos cerebrais em 3D e essas réplicas foram fundamentais durante as cirurgias.

“A gente queria que eles aprendessem a andar, a desenvolver a linguagem, eles estavam no hospital e os instintos são precários. Mas a gente colocava eles no chão, cortou o cabelo deles, fez festa de aniversário, ensinou eles a falar… A gente se sente parte da família”, destaca a médica pediatra Fernanda Fialho.

Ajuda de especialista inglês

Foi após a sétima cirurgia que o neurocirurgião decidiu buscar ajuda para a separação total e recorreu ao médico inglês Owasi Jeelani, de Londres, a pessoa que, no momento, tem mais experiência em separação de craniópagos pelo mundo.

Cada detalhe da grande cirurgia foi ensaiado e os médicos foram divididos em dois grupos: para cuidar de Bernardo, os profissionais formaram a equipe vermelha. E para o Arthur, a equipe era azul.

“A cirurgia começou às seis horas da manhã e demorou treze horas, terminou de noite. As crianças ficaram mantidas em coma induzido, sedadas e na UTI”

Ao todo, foram nove cirurgias e a última durou 23 horas.

Referência

As cirurgias no Instituto Estadual do Cérebro foram todas custeadas pelo SUS e o hospital foi convidado a ser um parceiro da Fundação Gemini Untwined, criada pelo doutor Owase Jeelani.

Agora, a equipe do médico Gabriel Mufarrej será referência para futuras cirurgias de separação de gêmeos unidos pela cabeça na América Latina.

“O maior sonho é ver eles recuperados, com saúde e até com uma vida social como as outras crianças. Poder estudar, poder jogar bola”, disse o pai, cheio de esperança!

Que trabalho maravilhoso! Um viva a esses profissionais e a esses dois guerreirinhos vencedores!