O plantão de Gravatá é tido como um dos
mais difíceis, considerado bastante cansativo e “duro” para médicos,
enfermeiros e profissionais de saúde em geral
Igor da Nóbrega
A reestruturação no Hospital Municipal de Gravatá, no
Agreste de Pernambuco, que recebe aproximadamente 200 pessoas por dia, levou
nove médicos a pedirem demissão em apenas dois meses. Os plantonistas falam em
sobrecarga de trabalho e estresse provocado pela diminuição de um médico do
local.
O Correio Notícias já havia divulgado uma matéria sobre
a saída de Dr. Carlos Fraga, que atuou no Sistema Único de Saúde (SUS) da
cidade por quatro anos. Entramos em contato com ele, que demonstrou indignação
com o anúncio feito pela Secretaria Municipal de Saúde sobre a retirada de um
plantonista e incluir outro médico para tratar de casos ambulatoriais.
“Eu nunca ouvi falar, em canto algum, de colocar um
ambulatório dentro de uma urgência, ou seja, querem disponibilizar um médico
para atender os pacientes com casos de menor complexidade, durante 12 horas diárias.
Isso não existe. Pegando o gancho do secretário de saúde, que disse que 85% dos
casos são ambulatoriais, enquanto 15% é de urgência e emergência, quer dizer
que apenas um médico vai dar conta de atender 85% dos pacientes, enquanto
outros três vão atender apenas 15%? São coisas que não fazem sentido”, disse.
Dr. Carlos faz uma observação quanto aos atendimentos
realizados em hospitais do interior, que ele intitula de ‘amburgências’, uma
mistura de ambulatórios com emergências. “O hospital de Gravatá recebe cerca de
200 pessoas diariamente, com casos de muita complexidade, então, muitas vezes,
os pacientes necessitam de retorno ao consultório, pois realizaram um raio-x,
um hemograma ou outro exame. Com isso, esse número passa a ser de 300 ou 350.
Existem as voltas dos pacientes e os encaminhamentos, fora que, em alguns dias,
um médico se ausenta do plantão”, explicou.
Por fim, o plantonista deixa uma mensagem. “Eu desejo boa
sorte à população de Gravatá, com esse plantão de três médicos. Diga-se de
passagem, que toda a classe médica do interior ficou estarrecida com esta
iniciativa. Hoje a Secretaria de Saúde está tendo dificuldades para manter a
escala, pois ninguém tá querendo ficar lá”, concluiu Dr. Carlos.
Nossa redação também entrou em contato com Dr. Rodrigo Lira,
outro médico a pedir demissão. O clínico geral relata os motivos que o fizeram
sair. “A redução de quatro para três médicos nos plantões semanais e nos fins
de semana gerou um desconforto em todos os profissionais e na própria
administração do Hospital de Gravatá – porteiros, técnicos enfermeiros, recepcionistas,
etc. Todo mundo que sabe como funciona o sistema do hospital, sabe o quanto é
difícil não ter médicos suficientes no plantão. Por outro lado, destaco a
redução salarial que ocorreu no quadro da semana – uma gratificação para
igualar com os salários dos médicos dos fins de semana -, e a retirada do
recebimento do quinto plantão, que é o trabalho dos médicos por contrato – o
médico recebe um valor ‘x’ por mês, e não pelo número de plantões.
Consequentemente, em alguns meses, alguém ia trabalhar cinco plantões, mas só
receberia pelo valor de quatro”, afirmou.
O novo modelo proposto pela atual gestão ainda tentou ser
negociado pelos plantonistas, conforme relata Dr. Rodrigo. “Tivemos alguns
encontros com a Secretaria de Saúde. O primeiro ficou caracterizado por um
critério de ‘imposição’ sobre esta reestruturação. Tentamos uma nova conversa,
mas novamente sem sucesso. Baseado nas mesmas imposições, eu vi que não tinha
jeito e pedi demissão. Eu não vou perder minha sanidade mental e não vou
atender paciente de lugar nenhum sem conseguir racionar direito por conta de
estresse físico e mental. Não estou falando do registro médico, mas da vida de
paciente que vai ser colocada em risco. Isso é meu ponto de vista. Quem me
conhece, sabe o quanto eu amo a cidade e o quanto eu me dediquei à população”,
pontuou.
Dentro do Agreste pernambucano, o plantão de Gravatá é tido
como um dos mais difíceis, considerado bastante cansativo e “duro” para
médicos, enfermeiros e profissionais de saúde em geral.
Além de Dr. Carlos e Dr. Rodrigo, os outros médicos que
pediram demissão são Germana, Julhio, David, Carlos, Liara, Fred e Breno.
Segundo informações repassadas ao nosso site, os plantonistas Wanderla e Bruno
também devem sair daqui para este sábado (27).
O Correio Notícias já havia conversado com o atual
secretário de Saúde, José Edson de Souza, sobre o pedido de demissão de Dr.
Carlos Fraga. Clique aqui e confira a nota na íntegra.
Do Estação Notícias / Correio Noticias