Ao menos 150 mil
visitantes eram esperados neste ano no teatro ao ar livre de Nova Jerusalém, em
Brejo da Madre de Deus
O
pequeno distrito de Fazenda Nova, no município do Brejo da Madre de Deus,
Agreste de Pernambuco, que recebe mais de 150 mil pessoas nesta época, está
vazio.
Pela primeira vez, após 53 anos, o espetáculo da Paixão de Cristo de Nova
Jerusalém, o mais famoso do Brasil, não vai ocorrer durante a Semana Santa em
razão da pandemia de coronavírus.
“O
sentimento é de um grande vazio aqui. O povo está muito triste. Sentimos na
fala e no olhar”, descreve o padre de Fazenda Nova, Paulo Cesar do Nascimento.
O
evento, que seria realizado de 4 a 11 de abril, foi transferido para o período
de 2 a 7 de setembro deste ano.
Fazenda
Nova tem pouco mais de 7.000 habitantes. A Semana Santa é o momento em que tudo
se transforma por lá. Atores famosos passeiam pelo meio da rua, comerciantes
conseguem multiplicar os lucros, bares e restaurantes ficam cheios e muitos
moradores se divertem fazendo figuração no espetáculo grandioso.
“O impacto aqui é muito grande. Não tem como mensurar. O pessoal vive em torno
desses dez dias de apresentação da Paixão de Cristo durante a Semana Santa”,
diz Geovani Barbosa, secretário de Turismo do Brejo da Madre de Deus.
Nesta época, são gerados mais de 3.000 empregos diretos e indiretos na cidade.
Paulo Lopes Silva Neto, dono de um restaurante que fica bem perto de onde
ocorre o espetáculo, diz que se preparou e investiu para receber uma grande
quantidade de clientes.
“No ano passado, vendia mais de 120 almoços por dia. Somos o restaurante mais
próximo do local onde ocorre a Paixão de Cristo. Já tinha comprado muita coisa
para atender a demanda grande, mas todo mundo foi pego de surpresa. É cumprir a
quarentena e esperar passar”, diz.
Agora, ele está entregando quentinhas. “A gente vai se virando”, conta.
Morador de Caruaru, no interior de Pernambuco, o ator Sebastião Alves, mais conhecido como Sebá, participa do espetáculo desde 1997. Já interpretou vários personagens.
“Para todos nós foi um impacto muito grande, uma surpresa desagradável. Mas o que importa é o compromisso com a sobrevivência, com o melhor para todos que é o sustento da vida", comentou.
O anúncio do adiamento foi feito no dia 14 de março. “Será um grande desafio
para todos que fazemos a Paixão, uma vez que a mudança de data implicará a
repactuação de muitas parcerias que envolvem o elenco, equipe técnica e governo
estadual”, afirmou Robinson Pacheco, presidente da STFN (Sociedade Teatral de
Fazenda Nova).
No
elenco principal deste ano estão confirmados os artistas Caco Ciocler (Jesus),
Edson Celulari (Herodes), Christine Fernandes (Maria), Juliana Knust (Madalena)
e Sérgio Marone (Pilatos).
Ao todo, 450 atores e figurantes atuam no espetáculo. A Paixão de Cristo de
Nova Jerusalém agrega cerca de 600 profissionais, incluindo técnicos,
eletricistas, sonoplastas, maquiadores, cabeleireiros e camareiras, entre
outros.
A ideia de construir um teatro ao ar livre como uma réplica da cidade de
Jerusalém para que nela ocorressem as encenações da Paixão de Cristo foi do
jornalista gaúcho Plínio Pacheco, que chegou a Fazenda Nova em 1956.
O plano só se concretizou em 1968, quando foi realizado o primeiro espetáculo
na cidade-teatro de Nova Jerusalém.
Desde
então, já são 53 anos de apresentações ininterruptas dentro das muralhas. O
maior teatro ao ar livre do mundo tem 100 mil metros quadrados.
É cercado por um grande muro de pedras de quatro metros de altura e com 70
torres de sete metros cada uma. No seu interior, nove palcos-plateias
reproduzem cenários naturais, arruados e palácios, além do Templo de Jerusalém.
Do Estação Notícias / Folha de São Paulo