sexta-feira, 31 de maio de 2019

Curiosidade: Brejense conhecido por ‘GPS humano’ tem gravado na memória milhares de endereços de ruas e avenidas, trabalhando como taxista em Praia Grande-SP.

Conheça as histórias e a luta que o levou a ganhar o apelido de GPS humano.

Natural de Brejo da Madre de Deus, mais precisamente no distrito Barra de Farias, no Agreste de Pernambuco, José Carneiro dos Santos, também conhecido como ‘Cobrinha ou GPS humano’, tem 65 anos, é o taxista dos sonhos de qualquer passageiro em Praia Grande, São Paulo. Na profissão há 25 anos, ele tem mais de mil endereços na cidade guardados na cabeça.

Conheça algumas histórias contadas por José Carneiro, o brejense conhecido em Praia Grande por Cobrinha ou GPS humano, explica o que levou ele a gravar todos esses nomes de ruas da cidade.

Muito bem-humorado, o GPS humano revela que decorar as milhares de ruas e avenidas do município só foi possível depois de algumas suspensões da associação de táxi em que trabalhava e uma lição de moral dada por um turista de 10 anos de idade.

“Em 1981, um garoto de 10 anos pediu para leva-lo a um viaduto que eu não conhecia. Falei que aquilo não existia. O menino ficou bravo e perguntou se eu era mesmo taxista, porque ele era uma criança de fora e que sabia chegar nesse viaduto. Ele me guiou e aquilo ficou atravessado em mim. No dia seguinte, peguei o caderno e anotei o nome de todos os viadutos de Praia Grande”.
Numa outra oportunidade daquele mesmo ano, o GPS humano, mais uma vez perdido com as ruas de Praia a Grande, foi chamado por um motociclista para ajuda-lo em um endereço.

“Ele queria saber onde ficava a Rua João Ramalho no Aviação, e respondi que era no Caiçara. Esse cabra foi ao Caiçara e não achou nada. Ele voltou e me pegou no pulo. Falou que tinha sido enganado”.

Depois disso, José Carneiro (GPS humano) ainda foi chamado de “lástima” pelo dono da associação de taxistas em que trabalhava por não saber chegar nas ruas Xixová e Mascarenhas.

“Aí comecei a anotar tudo. Hoje, das 1905 ruas de Praia Grande, conheço 1130. E tem umas com uns nomes bem estranhos, como Rua Pargo Rosa, Pescada Amarela, Coragem e Onça Pintada”.

O mapa da Cidade está registrado na mente do taxista, que é só risos.

O brejense Zé da Barra, campeão de um concurso de forró em Praia Grande e viciado em rapadura, Cobrinha - apelido que ganhou por se mexer demais enquanto dança - também tem muita história dentro do táxi. E um caso que não esquece é o dia em que o passageiro reclamou da bandeira dois, cobrada dele às 23 horas.

“O homem achou ruim ver a bandeira dois ligada. Perguntei se ele nunca tinha andado de táxi e expliquei que era assim. Mas o cidadão disse que não pagaria. Me irritei e falei que se tivesse que buscar o Zé da Barra – um  pedaço de ferro que deixava no porta-malas batizado em homenagem ao distrito Barra do Farias, da cidade onde ele nasceu, Brejo da Madre de Deus, no Agreste de Pernambuco – o passageiro teria que pagar  abandeira três. Rapidinho o cabra acalmou e pagou sem falar mais nada”, conta gargalhando.

Dois assaltos deixam o GPS humano bem chateado

Mesmo com o Zé da Barra no porta-malas, o GPS humano não conseguiu evitar duas ações criminosas dentro do seu táxi. Em uma delas, ficou chateado com o ladrão, que depois de tomar posse do seu dinheiro e de seus bens, ainda o xingou.

“A corrida tava normal, mas, de repente, o cara anunciou o assalto. Pediu dinheiro e celular. Antes de sair, pegou um maço de cigarros no painel. Quando ele iria embora, pedi pra deixar um cigarrinho pra mim. Queria fumar pra passar a raiva, né? O ladrão me olhou, tirou dois cigarros e falou que eu era folgado. Ele tava me roubando e o folgado era eu. É mole?”

No outro roubo, o GPS humano demorou para perceber que seria assaltado. Inclusive, chegou a brincar com o bandido.

“Ele entrou no carro dizendo que era para deixa-lo em casa e me falou o endereço. Quando cheguei na rua, ele disse que não era ali. Andei mais um pouco e ele dizia que não achava. Foi aí que falei: ‘Olha, já vi muita coisa no táxi. Mas o cidadão que não sabe onde mora, é a primeira vez. Ele não gostou e anunciou o assalto’. Me dei mal”

O senhor José Carneiro, o GPS humano, está com 66 anos, é aposentado e cata recicláveis para complementar a renda.


Confira uma fotografia tirada em 2016, quando José Carneiro veio pela última vez até Brejo da Madre de Deus, visitar a sua mãe.

Ao seu lado, Vanda Lúcia (irmã) e Adélia Virgínia (mãe).
Do Estação Notícias / A Tribuna