Dez
milhões de brasileiros participam de concursos públicos a cada ano. E uma
quantidade incalculável deles está sendo passada pra trás. O programa
"Fantástico" mostrou uma reportagem que mostra o golpe que transforma
concursos em cabides de emprego. A fraude beneficia parentes e assessores de
políticos em todo o país.
O
"Fantástico" apurou que em todos os estados do Brasil e no Distrito
Federal, os ministérios públicos investigam algum tipo de fraude em concursos
públicos. Só na Bahia, foram 36 casos de irregularidades. Em Mato Grosso do
Sul, as questões de um concurso foram copiadas de uma prova feita antes no
Pará. E, no Maranhão, um analfabeto foi aprovado graças ao esquema montado por
um secretário municipal, parente dele.
A maior
parte das fraudes acontece nos concursos municipais. Prefeitos e vereadores
contratam uma empresa para organizar a prova e indicam os candidatos que eles
querem ver aprovados. A reportagem denunciou as prefeituras de Novo Barreiro e
Itati, no Rio Grande do Sul, e as empresas Inova, Ascom, DP, Lógica, RCV. O
esquema é montado por prefeitos e vereadores, que contratam empresas para
organizar a prova e indicam os candidatos que eles querem ver aprovados.
Em Novo
Barreiro, no Rio Grande do Sul, aconteceu um caso curioso: uma mulher, que
tentou se beneficiar da fraude, mas acabou reprovada, resolveu denunciar o
prefeito.
"Ele
chegou lá na minha casa e falou assim: ‘os meus eu tinha que deixar bem. Eu fiz
o concurso dessa maneira porque eu não ia fazer um concurso para passar
qualquer um", lembra.
Ela
também acusou o prefeito de vender o gabarito das provas e, posteriormente,
cobrar dos candidatos o valor como desconto no salário.
O
prefeito Flavio Smaniotto não quis comentar a acusação.
"De
dez, eu consigo aprovar 3", disse um dos sócios da Inova, empresa que
aplica provas, ao repórter do "Fantástico" que se passava por um
negociador. Em outro momento, o repórter questionou o preço a ser cobrado pela
indicação de oito candidatos a um representante da empresa Lógica.
"Para
cada candidato indicado, eles pedem R$ 5 mil", disse o homem.
No
entanto, ele afirmou que o preço pode ser negociado. Em outro momento, ele
pediu "alguma coisa por fora" para "valer a pena", que
seriam R$ 3 mil depositados diretamente em sua conta pessoal.
A fiscal
de um concurso em Itati, no Rio Grande do Sul, notou que vários candidatos
entregaram a prova quase em branco e mesmo assim foram aprovados. É a oficialização
do cabide de empregos:
"O
perfil que nós identificamos é sempre de alguma forma ligado ao administrador.
Ou por laços de parentesco, ou por afinidade partidária, político-partidária,
ou até mesmo quem já presta serviços ao Executivo", explica o promotor de
Justiça Mauro Rockembach.
Trinta e
oito candidatos foram indiciados na cidade, mas a maioria deles continua a
ocupar os cargos conseguidos irregularmente.
O Globo