Embora registrem menor número de casos de câncer de mama, as Regiões
Norte e Nordeste são as que têm a maior incidência de tumores mais agressivos,
revela estudo inédito divulgado pela Sociedade Brasileira de Mastologia, por
ocasião do Dia Internacional Contra o Câncer de Mama, celebrado neste domingo
(19).
Durante dois anos, os pesquisadores analisaram as características dos
tumores de mama de 5.687 mulheres em todas as regiões do País. Eles foram
divididos em cinco tipos, de acordo com o grau de agressividade, sendo o
luminal A o menos agressivo e com maiores chances de cura e o triplo negativo o
mais agressivo e com menos possibilidades de tratamento.
O estudo mostrou que no Sul e Sudeste a incidência do tumor triplo
negativo é de aproximadamente 14%, enquanto no Norte o índice sobe para 20,3% e
no Nordeste e Centro-Oeste, vai para 17,4%. Já os tumores do tipo luminal A
representam 30,8% dos casos relatados na Região Sul e 28,8% no Sudeste. A
frequência desse tipo de câncer cai para 24,1% no Nordeste, 25,3% no Norte e
25,9% no Centro-Oeste.
Segundo Filomena Carvalho, professora associada do Departamento de
Patologia da Faculdade de Medicina da USP e uma das autoras do estudo, as
diferenças nas incidências dos diversos tipos de tumores, de acordo com a
região do Brasil, mostram que o aparecimento de determinado câncer tem a
interferência de questões raciais e ambientais. "Outros estudos
internacionais já mostraram que mulheres afrodescendentes tendem a apresentar
tumores de mama mais agressivos. No Norte e Nordeste, a taxa de população negra
é maior. O calor também pode ser um fator que influencia nas mutações
genéticas", diz ela, que integra a SBM e liderou o estudo ao lado do
pesquisador Carlos Bacchi, diretor do laboratório Bacchi, de Botucatu.
Moradora de Salvador, a farmacêutica Isabele Maiara de Oliveira e Silva,
de 34 anos, descobriu o câncer de mama há pouco mais de um mês. Por causa da
agressividade da doença, ela foi submetida à cirurgia de retirada do tumor e da
mama 20 dias depois. Embora ainda esteja aguardando os resultados da biopsia, a
principal hipótese é de que ela tenha o tumor do tipo triplo negativo.
"Eu fazia ultrassom da mama todos os anos. Só não fazia mamografia
porque, pela idade, ainda não tinha indicação. De um ano para o outro, esse
tumor surgiu e, quando descobri, já tinha dois centímetros. Ele crescia muito
rápido", conta ela, que agora terá de passar por quimioterapia e
radioterapia.
A analista de sistemas Denise Guedes Marques Amadeu, de 49 anos, de São
Paulo, passou, há cinco anos, por processo similar ao de Isabele. "Tive de
fazer a cirurgia, químio e radio. A sorte foi que descobri o tumor logo no
começo, e o tratamento foi iniciado rapidamente", conta ela. Denise teve
um tumor do tipo luminal A, o que tem as maiores chances de cura. "É bom
as pessoas saberem que o diagnóstico de câncer de mama não é uma sentença de
morte. E mesmo o trauma da retirada da mama pode ser minimizado com a cirurgia
de reconstrução", diz.
Prevenção
Para Filomena Carvalho, o estudo das diferenças
geográficas dos tumores é importante para o estabelecimento de políticas
públicas de prevenção e diagnóstico mais eficazes para cada contexto.
"Embora a gente não saiba com certeza as causas dessas diferenças, elas
devem nortear toda a estratégia de prevenção. No caso de regiões com maior
incidência de tumores mais agressivos, o diagnóstico precoce é ainda mais
importante", defende.
Do Estação Notícias Fonte: Folha de
Pernambuco